O NOVO NASCIMENTO



Título: O Novo Nascimento

Texto:  João 3: 1-14

Introdução



Deus ao criar o ser humano o fez perfeito e completo. Coroa de Sua criação. Imagem e semelhança Sua. E, desta forma, Sua obra não estaria completa acaso o ser humano fosse incapaz de tomar decisões por si próprio, de executar as ações decorrentes destas decisões, bem como de entender as consequências de seus atos. Neste contexto disse Deus ao homem:

“... De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gênesis 2:16-17 ACF)

Mas, a serpente disse:

"... Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal" (Gênesis 3:4-5 ACF)

E preferiu o ser humano crer na serpente a crer em Deus. Faltou-lhe fé em Deus. Faltou-lhe obediência a Deus. E por este pecado, o maior de todos, a falta de fé no Deus Verdadeiro, foi o ser humano expulso do paraíso e fez-se separação entre Deus e os homens:

"Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça" (Isaías 59:2)

E o pecado e todo o mal entraram para a natureza humana e isto lhe causou, por condenação divina, a morte. Pois, mesmo tendo Deus, desde o início, advertido o homem do resultado da desobediência: "Se comeres, certamente morrerás...", ainda assim o homem, dando ouvidos à serpente, ignorou o aviso e, portanto, merecendo foi condenado por suas ações.

Mas, apesar do pecado e da maldade e da escuridão do coração humano, Deus em Sua infinita misericórdia nos amou a ponto de, mesmo estando nós mortos em nossos pecados, providenciar o meio para que pudéssemos nos salvar da condenação eterna causada por nossos pecados.

- A promessa do descendente da mulher (Gn. 3:15)



Elucidação:

Quem era Nicodemos?

Primeiro, a descrição de Nicodemos e de sua posição religiosa:
  • “Havia entre os fariseus... um dos principais dos judeus”... Nicodemos era um legítimo descendente de Abraão; um judeu puro sangue. Os judeus criam que só pelo fato de serem descendentes de Abraão eram filhos de Deus e tinham o direito de serem salvos. 
  • “Entre os fariseus”. Nicodemos pertencia a um grupo separatista, chamado de fariseus. Os fariseus eram extremamente religiosos, iam à sinagoga todo sábado, oravam três vezes ao dia, jejuavam duas vezes por semana, davam o dizimo da hortelã, do endro e do cominho (Mt.23.23), ou seja, das mínimas coisas; 
  • “Um dos principais dos judeus”. Nicodemos tinha prestígio. Provavelmente fosse um dos 70 anciãos membros da Suprema Corte judaica, chamada de Sinédrio. Era uma pessoa de posição importante na época. Era um Rabi, um mestre, um teólogo. Conhecia bem as Escrituras e tinha o dever de ensinar e julgar e corrigir os judeus segundo os mandamentos e preceitos da lei de Moisés. 
  • Mas, Nicodemos não era salvo. Apesar de ter um currículo admirável, a resposta de Jesus para ele foi devastadora, pegou Nicodemos desprevenido. Não podia entrar no Reino de Deus, pois não tinha o requisito principal, o novo nascimento.

Segundo, temos uma descrição do momento em que Nicodemos veio a ter com Jesus:
  •  “Este foi ter de noite com Jesus...”

“Embora porquê Nicodemos veio ter com Jesus à noite, não fique claro, existem duas alternativas mais aceitas com relação a este detalhe destacado pelo autor: Nicodemos veio a Jesus à noite para se beneficiar da cobertura da escuridão, temendo, aos olhos do público, ser associado com o mestre e operador de milagres galileu; Ou, para ter mais privacidade e poder ficar a sós com Jesus e assim poder indagar a Jesus, sem ser incomodado pela multidão. Os rabis daquela época costumavam estudar e debater até altas horas”. (Carson)

Terceiro, temos o diálogo de Nicodemos com Jesus:
  • “... e Lhe disse: ‘Rabi, sabemos que és mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele” (vs.2)

Embora fosse um mestre destacado, Nicodemos se dirigiu a Jesus chamando-o de Rabi. Isso não sugere que ele cresce que Jesus seja um profeta, muito menos, o Profeta ou o Messias, mas, simplesmente um mestre poderosamente dotado com o poder de Deus. Formalmente, Nicodemos ainda não havia perguntado nada, embora a pergunta implícita pareça ser esta: “Então, quem é você?” Nós sabemos que você é mestre vindo de Deus, mas é mais que isso? É um profeta? É o Messias? (Carson)
  • “A isto, respondeu Jesus: ‘Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus’.” (vs.3).

Quarto, temos um mestre dos judeus cheio de dúvidas, quanto ao novo nascimento:
  • “Perguntou-lhe Nicodemos: ‘Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, por ventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez’?” (v. 4) 
  • “Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espirito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo. O vento sobra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (vs. 5-8)

Quinto, a última pergunta de Nicodemos indica que Nicodemos ficou surpreso com a resposta, mas talvez ainda não tenha entendido o que Jesus quer dizer com “nascer de novo”, “nascer da água e do Espírito”, “todo aquele que é nascido do Espírito”. 
  • “Então, lhe perguntou Nicodemos: como pode suceder isto?” (v.9) 
  • “Acudiu Jesus: tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas”?

Sexto, o texto segue com um monólogo de Jesus até o verso 15 e continua com a narração de João (3.16seg.)

Chamamos a atenção para a dificuldade de Nicodemos entender ou mesmo de aceitar o fato de Jesus dizer para um judeu, religioso e especialmente um fariseu que ele tinha que nascer de novo.

“Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus... quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus... Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo” (Jo. 3:3,5,7)



Afinal, o que é o novo nascimento?

1.       O que não é novo nascimento?

·          Não é o nascimento natural ou o primeiro nascimento

“O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito”

·          Não é ser religioso

·          Não é ser batizado nas águas

·          Não é uma mera mudança exterior

“Não é uma pequena transformação que salva o homem, não, nem toda moralidade do mundo, nem todas as graças comuns do Espírito de Deus, nem a mudança externa da vida; tudo isso não é suficiente, a menos que sejamos vivificados e que uma nova vida seja produzida em nós”.

·          Não é reencarnação



2.       O que é novo nascimento?

A palavra usada por Jesus como “nascer”, na língua grega, genethe (de onde vem a palavra genética) de “gennaô” (de onde vem a palavra genealogia) significa tanto “gerar” quanto “nascer”. No caso de João 3.3, a palavra “genethe” vem junta com outra palavra “anothen” que significa literalmente “do alto”; pode também, significar “outra vez” “de novo”, “renascer” (Antony Hoekema)

Outra palavra que encontrarmos no novo testamento é a palavra regeneração (Tt.3:5. 1 Pe. 1.3, 23).

 “Regeneração pode ser definida como a obra do Espírito Santo pela qual ele inicialmente traz as pessoas à viva união com Cristo, transformando seus corações para que aqueles que estão espiritualmente mortos se tornem espiritualmente vivos, habilitados a se arrependerem do pecado, crer no evangelho e servirem ao Senhor” (Antony Hoekema)

“A Regeneração é uma mudança imensa e poderosa realizada na alma pela obra eficaz do Espírito Santo, na qual um princípio vital, um novo comportamento, a Lei de Deus e uma natureza divina são colocados e formados no coração, capacitando a pessoa a agir com santidade, de um modo que agrada a Deus, e fazendo-a crescer nisto para a gloria eterna” (Charnok).

“Uma mudança realizada pelo poder do Espírito Santo no entendimento, na vontade e nas afeições de um pecador, o que consiste no início de um novo tipo de vida e dá outra direção à sua opinião, aos seus desejos, às suas buscas e à sua conduta” (Thomas Scott)



“As vezes é chamada de santa vocação, criação, nova criação, transportar, circuncisão do coração, ressurreição, nascer do alto, nascer de novo, ser vivificado, ser coparticipante da natureza divina, e a mais conhecida é novo nascimento”



3.       Por que é necessário nascer de novo?

Segundo A.W Pink, três fatores determinam essa necessidade: A necessidade da regeneração jaz da nossa degeneração total; a necessidade da regeneração jaz da depravação total do homem; a necessidade da regeneração jaz no fato de que o homem é inapto para Deus.

Em consequência da queda de nossos primeiros pais, todos nascemos afastados da vida e da santidade de Deus, despojados de todas as perfeições com as quais a natureza do homem foi dotada no princípio.

A imagem de Deus em nós foi “apagada” (não totalmente. Conf. Gn.6:9); uma aversão a Deus e o amor pela criatura em lugar do criador tomou o seu lugar; a natureza do homem se tornou uma fonte poluída de onde jorra constantemente águas escusas, impuras.

 O estado do ser humano após a queda é de morte espiritual (Rm. 6.23; 5.12; Ef.2.1), separação de Deus (Is. 49:2; Rm. 3:23), escravidão (Jo. 8:34), condenação (Jo.3:19), inimizade (Ef.2:14), inclinações contrárias a Deus, desobediência e trevas (Tito 3.3-7; II Co.4:4).



 “O homem é uma criatura caída. Isto não significa que apenas algumas poucas folhas murcharam, e sim que toda a árvore apodreceu, da raiz até aos ramos”. (A.W.Pink)

“Cada membro da raça de Adão é uma criatura caída, e cada parte de seu ser complexo foi corrompido pelo pecado. O coração do homem é enganoso... mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto” (Jr. 17:9). O entendimento dele é cegado por Satanás (2 Co. 4.4) e obscurecido pelo pecado (Ef. 4.18) de modo que ele ama o que Deus odeia e odeia o que Deus ama. As intenções do homem são desprovidas de justiça (Rm.6.20) e inimigas de Deus (Rm. 8.7). Ele não é justo (rm.3.10), está debaixo da maldição da leio (Gl.3.10) e é cativo do diabo. De fato, sua condição é deplorável, e seu caso, desesperador. O homem não pode melhorar a si mesmo, porque é fraco (Rm.5.6). Ele não pode produzir sua própria salvação, pois nele não habita nenhum bem (Rm.7.18). Logo o homem precisa nascer de novo, pois nem a circuncisão é coisa alguma, nem a incircuncisão, mas o ser nova criatura” (Gl.5:15).



4.       Como nascemos de novo?

“Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus... quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus...” (Jo. 3:3,5)

Ø  Pelo sobro vivificador do Espírito Santo de Deus (v.8)

“Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malicia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros. Quando, porem, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna” (Tito 3.3-7).



Sem o novo nascimento a pessoa está morta espiritualmente e por causa do seu estado de total incapacidade de ir a Deus, ela precisa que uma ação sobrenatural de vivificação do Espírito Santo seja operada na sua vida.

Jesus deixou claro que o novo nascimento não depende de uma ação natural. O “nascer do Espírito” não depende da vontade da pessoa, assim como o nascer da carne não depende de nossa vontade ou da vontade de nossos pais, mas da soberania de Deus. Não podemos agendar nosso próprio nascimento, nem escolher o sexo que vamos nascer, ou a nossa cor. Da mesma forma João diz que acerca dos que nasceram de novo: “O quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo.1:13).

“Antes que o homem possa entrar no reino espiritual, seu entendimento precisa ser iluminado sobrenaturalmente; seu coração renovado e sua vontade libertada”.

“Na regeneração, o entendimento é iluminado pelo Espírito Santo, para que possa compreender os mistérios e a vontade de Deus. E a vontade em si mesma não é mudada pelo Espírito, mas também dotada de habilidades, de modo que, por iniciativa própria, possa querer fazer o bem” (Confissão Helvética)

O Sinodo de Dort diz: Esta graça regeneradora de Deus não age nos homens como se eles fossem seres inanimados; não anula a vontade nem as características da vontade deles; e não a constrange com violência, mas vivifica espiritualmente, cura corrige e, com poder, embora gentilmente, submete-a; a fim de que, onde a rebeldia da carne e a obstinação antes dominavam sem controle, agora comece a reinar uma obediência disposta e sincera ao Espírito. Esta mudança constitui o resgate e a liberdade verdadeira e espiritual de nossa vontade...”



Ø  O Espírito Santo regenera pela Palavra de Deus.

“Pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (I Pe. 1:23)

Muito se tem argumentado e discutido sobre o significado de “nascer da água”. Para alguns significa literalmente ser batizado com água; outros veem no batismo um símbolo do “lavar regenerador”, ao qual Tito se refere (Tt.35). No entanto, a interpretação mais aceita é a que fosse mais comum para a mentalidade dos dias de Jesus e, como sabemos havia pelo menos dois tipos de “batismos” naqueles dias,  o batismo para um prosélito se tornar um judaizante ou o batismo de João. É pouco provável que Jesus estivesse se referindo a esses dois tipos de purificação.

Que significa nascer da água e do Espírito? Jesus deixa claro que Nicodemos, por ser um mestre da lei, deveria saber o que significa; logo, podemos deduzir que Jesus estava falando de algo comum já apresentado antes por Moisés ou pelos profetas, algo registrado nas Escrituras judaicas, que nós chamamos de Antigo Testamento.

Vejamos o que diz Ezequiel 36: 25-27:

“Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espirito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis”.



Ø  O Espírito Santo, através da Palavra de Deus, gera a fé salvadora (vs.14-15)

“E do modo porque Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna”.



Jesus ensinava por parábolas e sempre defendia seus argumentos com a própria Escritura. Assim sendo, Jesus utiliza uma metáfora para dizer a Nicodemos que era necessário mais do que simplesmente reconhecer que ele era apenas profeta enviado por Deus, mas que ele era o Messias prometido. A comparação não é comum, mas o significado foi dado desde os dias de Moisés quando estava com o povo de Israel no deserto.

O povo havia murmurado contra Deus por causa do Maná um alimento divino dado por Deus durante os quarenta anos no deserto. O maná simbolizava o próprio Cristo, o pão vivo que desceu do céu. O povo chamou aquele milagre de pão vil ou desprezível. Por causa do pecado Deus enviou serpentes abrasadoras cujas mordidas doíam como queimaduras, deixavam dores terríveis e matavam muito rápido.

Os israelitas reconheceram seus pecados, se arrependeram e pediram a Moisés que intercedessem a Deus para que Ele os livrasse das serpentes. Deus não livrou das serpentes, nem das mordidas, mas providenciou um remédio: o povo deveria olhar para uma serpente de bronze feita por Moisés e erguida numa haste de madeira.

Algumas coisas precisam ser observadas aqui:
  • A cura não estava na serpente; 
  • A cura não estava no fato só de um olhar;A cura não estava apenas no arrependimento, nem na obediência em si; 
  • A cura estava no fato de que aquela serpente era um tipo de Cristo, um símbolo, prefigurando o verdadeiro sacrifício de Jesus. Como uma serpente pode simbolizar Cristo? Ela simbolizava nossos pecados que foram lançados sobre Ele.

“Certamente Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e nossas dores levou sobre si; ... Mas Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele e por suas pisaduras fomos curados” (Is. 53:4,5)

                “Aquele que não conheceu pecado ele o fez pecado por nós...”  (2 Co.5:21)



5.       Quais as evidências do novo nascimento?
  • Não vive na prática do pecado (II Co. 5.17; I Jo. 3: 6-9; 5.18)
  • Fé em Cristo (I Jo. 5:1)
  • Santidade (I Jo. 2:29)
  • Uma mente espiritual (Cl.3.1-2)
  • Vitória sobre o mundo (I Jo. 5.4)
  • Humildade (Mt. 5.3; Sl.131.2)
  • Prazer em todos os meios de graça (I Pe. 2.2)
  • Amor pelos outros (I Jo. 4.7-8)

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